A gestão dos
catadores e catadoras da Rede Centcoop do Distrito Federal ganhou uma ajuda da
tecnologia. A Cooperativa Ecooidea que é base de serviços da Rede dentro do
Projeto Cataforte III, criou um conjunto de aplicativos para ser usado em
celulares, tablets e computadores.
Criados por um corpo técnico da Ecooidea que já trabalha com TI, esses
aplicativos servem para coletar dados nos EES da Rede, através de perguntas,
fotografias, localização geográfica, etc.
Os aplicativos garantem a inserção de vários dados, desde quem são os
catadores, a que EES pertencem, com registros completos de dados, com fotos e
até relatórios mais complexos de gestão com entrada e saída de materiais,
estoque, tabela de preços, compradores, prestação de contas, etc.
Essas informações coletadas pelos catadores, por meio de celulares, nas
suas cooperativas e associações, chegam até a base de dados onde é
consolidada e transformada em relatórios completos em tempo real, com
gráficos, fotografia, etc.
Os aplicativos também auxiliam na construção do perfil da categoria.
Os aplicativos dentro do Cataforte
Os aplicativos também se tornaram uma fundamental ferramenta para aferir
as atividades e metas do Cataforte III.
Na criação dos aplicativos, a equipe técnica de TI, ouviu a opinião dos
catadores/mobilizadores para construir as plataformas da forma mais didática
possível, construindo juntos uma ferramenta fácil e acessível.
Segundo a Ecooidea o feed back do aplicativo está sendo muito
positivo. Do ponto de vista do catador (a) que é pra quem o aplicativo foi
criado, e quem está fazendo uso em campo, a ferramenta tem facilitado muito o
dia a dia dos EES, com resultados precisos, rápidos e com uma margem de erro
muito pequena.
O aplicativo também permite que pequenos erros sejam detectados e
contornados na base de dados quase que imediatamente. Tem um técnico e uma
equipe acompanhando esses relatórios através de uma plataforma e sempre que é
identificado alguma falha ou alguma necessidade a correção é feita
imediatamente o que traz uma qualidade de informações muito significativa.
Autogestão e
desenvolvimento dentro do Cataforte
Uma gestão transparente e participativa sempre foi um desafio nos EES,
então, desde o início do Cataforte trazer os catadores/mobilizadores para o
centro da gestão do projeto, como atores principais que são, foi uma tarefa
importante.
Para a Ecooidea, o Cataforte foi um marco no processo de participação e
transparência, esse envolvimento dos catadores/mobilizadores com as ações do
projeto convergiu para o entendimento da finalidade do mesmo em todas as questões
desde a aplicação dos recursos até o papel de cada um no processo, todas as
decisões passam pelo coletivo.
As reuniões do Conselho Gestor fortalecem essa participação, trazendo a
transparência necessária.
Filhos de catadores como técnicos do projeto Cataforte
A Centcoop vive uma importante experiência, a de contratar filhos dos catadores e catadoras
como técnicos do Projeto Cataforte III.
Segundo Glauco da Cruz, diretor da Ecooidea e coordenador responsável
pelo Cataforte e Plano de Negócios, essa foi uma decisão das mais fáceis e
acertadas.
Seguindo a linha de participação de todos e todas, e ouvindo os
catadores e catadoras da Centcoop que reclamavam que dentro do Cataforte seria
importante capacitar quem de fato está na base, e quem vai permanecer à frente
dos EES quando projeto acabar.
“Com base nessa solicitação da Rede, foram indicados várias pessoas que
poderiam compor a equipe conosco e dentro do Conselho Gestor foi definido
uma comissão de contratação e durante as entrevistas já percebemos que essa
decisão foi muito assertiva”, afirma Glauco. “Quando fala com filhos e filhas
de catadores você percebe o envolvimento com a categoria, muitos já
passaram pela catação e atualmente estão estudando, ou já se formaram”.
Glauco também destaca que tem certeza que é uma grande oportunidade de
fazer com que esses jovens se capacitem melhor e possam levar algum processo de
inovação, aprimoramento e melhores condições para os EES dos quais os pais
fazem parte.
Para Rita Pereira de Jesus, filha de catadores e técnica do PNS no
Cataforte III ter filhos de catadores atuando como técnicos do Projeto foi uma
evolução para a categoria “Trazer filhos de catadores para o Cataforte é sair
do campo teórico e trazer a essência da catação para o trabalho. Nós temos experiência
de vivência legítima porque ser filho de catador é viver a catação ”.
Rita que é formada em Gestão de Recursos Humanos tem orgulho do trabalho
dos pais e credita sua formação ao trabalho da catação. “Nós somos frutos da
catação e isso é uma resposta que a categoria dá frutos positivos”.
Atualmente a Ecooidea contratou 3 técnicos, e tem previsão de
contratar mais dois técnicos, um para a logística e outro para engenharia
compondo assim 5 técnicos com mais 6 catadores/mobilizadores, totalizando assim
11 catadores e filhos de catadores atuando dentro do Projeto Cataforte III.
A Centcoop
Em 1999, ocorreu o primeiro Encontro Nacional de Catadores(as) de Papel,
quando surgiu o Movimento Nacional dos Catadores e Catadoras de Materiais
Recicláveis (MNCR). Em junho de 2001, este ainda incipiente movimento organizou
o primeiro Congresso Nacional dos(as) Catadores(as) de Materiais Recicláveis,
que reuniu mais de 1700 catadores e catadoras do país inteiro.
Em Brasília, a partir deste Congresso ocorrido em 2001, os(as)
catadores(as) passaram a organizar o Fórum Lixo e Cidadania, que, além dos(as)
representantes das cooperativas de reciclagem, conta com outros parceiros
institucionais, como a Cáritas, a Fundação Banco do Brasil, a Caixa Econômica
Federal e a Universidade de Brasília.
Em 2003 foi aprovado o “Manifesto de apoio à criação da Central dos(as)
Catadores(as)”. Em 2006, foi formalizada a criação da Central de Cooperativas
de Catadores e Catadoras de Materiais Recicláveis do Distrito Federal e Entorno
(Centcoop), inicialmente composta por 4 organizações (100 Dimensão, Cortrap,
Fundamental e Superação) legalizadas e mais 9 grupos ainda não legalizados.
A Centcoop foi criada inicialmente com o objetivo de realizar a
comercialização conjunta das Cooperativas e também funcionou como entidade
política-institucional dos(as) catadores(as) em Brasília.
A Centcoop tem encampado várias lutas em favor dos(as) catadores(as),
tais como: implantação da coleta seletiva no DF; inclusão dos(as) catadores(as)
nas políticas públicas; contratação das cooperativas para coleta seletiva
conforme a Lei 8666; pagamento pelos serviços prestados conforme a Lei de
Saneamento Básico; a construção de galpões.
As principais conquistas alcançadas pela Centcoop neste período foram a
doação, pela Secretaria de Patrimônio da União de um terreno de 160 mil metros
quadrados; o financiamento do BNDES para a construção dos galpões neste terreno;
e da Fundação Banco do Brasil para a infraestrutura nos terrenos, além de 7
caminhões adquiridos via Projeto Cataforte.
Atualmente, a Centcoop conta com 25 empreendimentos e 2790 catadores e
catadoras, atuando nas regiões administrativas do DF: Brasília, Brazlândia,
Recanto das Emas, Vila Estrutural, Ceilândia, Santa Maria, Sobradinho, Gama e
Planaltina e nos municípios de Novo Gama e Cidade Ocidental, em Goiás.