A história de Daniel Arguello Obelar, catador, que ganhava a vida
coletando materiais recicláveis dentro do lixão se parece com a de tantos
outros catadores (as) que incansáveis lutam dia e noite, debaixo de sol e chuva,
para garantir o sustento de suas famílias.
Daniel era um dos 250 catadores (as) que encontraram no lixão de Campo
Grande/MS a única possiblidade de trabalho e renda naquele momento.
Apesar das condições insalubres de trabalho, Daniel e seu grupo continuaram
retirando o sustento de suas famílias do
lixão por cerca de 2 anos. Foi quando em 2012 a prefeitura de Campo Grande anunciou que o
lixão seria fechado.
O mundo caiu para Daniel e os demais catadores (as) que sobreviviam
daquele trabalho.
O medo tomou conta de todos. E agora? O que fazer quando a única fonte
de renda de centenas de famílias seria fechada? Era um número muito grande catadores
(as), pais de família que dependiam daquele local pra sobreviver.
Mais Daniel acreditava que ele e seu grupo mereciam um trabalho com mais
dignidade e mesmo com receio apostaram na proposta da prefeitura e passaram a
trabalhar na Usina de Triagem de Resíduos – UTR, passando
a separar o material coletado por uma Concessionária.
Para Daniel sair do lixão foi um grande desafio, talvez o maior da sua
vida.
De catador do lixão a presidente da Rede Fortcooper/MS
Daniel entendeu
que havia chegado o momento de mudar, e melhorar as condições precárias de
trabalho, de vida e de saúde daqueles catadores (as).
No começo foi muito difícil. No lixão apesar de serem um grupo, era cada
um por si. Na URT tiveram que aprender a trabalhar em grupo, colocar em pratica
o cooperativismo, e isso não foi uma tarefa muito simples.
Eles também dependiam do material que chegava para a separação, que no
começo nem sempre esse era suficiente para garantir uma boa renda para todos
(as).
Muitos catadores (as) desistiram, mas Daniel não, ele persistiu e
venceu.
Hoje Daniel é presidente da Cooperativa Coopermaras e presidente da Rede
Fortcooper/MS.
"Muitos catadores (as) já
desistiram dessa luta, mais eu não desisto nunca, eu tenho um objetivo de que todos os catadores(as)
possam ter dignidade pelo seu serviço, dignidade de vida e que possamos ser
reconhecidos e remunerados pelos serviços prestados à sociedade”. “Lixão
nunca mais”, finaliza Daniel.
Histórico da Rede Fortcooper/MS
A construção da formalização dos catadores em EES de
Campo Grande/MS começou com a saída dos cerca de 250 catadores que
associados da Atmaras - Associação de Trabalhadores de Materiais Recicláveis
dos Aterros Sanitários de MS, trabalhavam no lixão.
No final de 2011 surge na cidade o Projeto Cataforte I, propondo formações dos catadores (as) em associativismo e cooperativismo. A partir daí o grupo entendendo a importância da união da fundou a Coopermaras - Cooperativa de Catadores de Materiais Recicláveis nos Aterros de Mato Grosso do Sul, composta por 120 catadores (as) advindos do lixão, sendo a maioria dos seus cooperados moradores do Bairro Dom Antônio Barbosa, onde está localizado o lixão.
Por meio deste foram ganhos dois caminhões, um modelo gaiola e um
furgão, com o objetivo de serem utilizados para a coleta seletiva em grandes geradores
pelos EES: Associação Atmaras e Cooperativas Coopermaras, Cata MS e Coopervida.
Cataforte, o divisor de águas
O projeto Cataforte em todas as suas edições,
representou para os antigos catadores (as) do lixão de MS um divisor de aguas e
um importante impulso para esses EES que foram criados a partir da saída do
lixão.
A Associação ATMARAS é a executora do Projeto
Cataforte III, para a constituição da Rede, agora com o novo nome
escolhido- REDE SOLIDÁRIA FORTCOOPER MS
– Fortalecendo Cooperativas de Catadores no Estado do Mato Grosso do Sul, sendo
que a mesma encontra-se em fase de registro.
Eclair afirma que foi dentro do Cataforte que
eles que tiveram acesso direto aos seus direitos e também conheceram o MNCR e a
história de luta dos catadores. Também conheceram todo o processo de formação,
de organização enquanto catadores (as) organizados em cooperativas/associações.
Daniel e seus companheiros que em 2012 acreditaram
que sua sobrevivência estava ameaçada, hoje estão dentro de um espaço mais
adequado, protegidos do sol e chuva e recebendo a coleta seletiva e triando o
material reciclável com uma dignidade que jamais teriam dentro de um lixão a
céu aberto.
A sequência do Projeto Cataforte foi sem
dúvida de extrema importância, pois vem assegurando e contribuindo com as
melhorias que os grupos vem almejando há anos.
Projeto “Vida
e Saúde dos Catadores"
Pensando nos riscos ocupacionais na saúde dos
catadores e catadoras oriundos do trabalho no lixão foi criado o “Projeto Vida
e Saúde dos Catadores”, da FIOCRUZ, em parceria com a UFMS, Secretarias de Saúde
do Município e Estado que tem sido também uma experiência exitosa, e cheia de
resultados positivos, onde todos os
catadores (as) participantes do Projeto Cataforte podem fazer exames aprofundados para sondarem possíveis doenças contraídas
durante o tempo em que trabalharam diretamente no lixão sem nenhum tipo de
proteção.
O Projeto continua orientando os catadores
(as) com diversas palestras e exames para garantir a saúde e qualidade de vida
de todos que trabalham na Rede.
Para o Projeto é um dever cuidar da saúde daqueles que
graciosamente garantem um meio ambiente mais saudável para todos.
Parcerias
que fortalecem
Recentemente a Rede fechou parceria com
a ABIHPEC através da logística reversa,
que vai garantir a compra de equipamentos.
Hoje, após cinco anos da saída do lixão a
Rede já disporem de esteiras,
empilhadeiras, 02 caminhões, mini pá carregadeira, “a ajuda do Projeto
Cataforte e por último a ABIHPEC representa um avanço significativo, que
propiciou o empoderamento e a organização destes grupos.”, conclui Eclair