Os
catadores e catadoras de materiais recicláveis
desorganizados e dos EES de Salvador e do interior da Bahia concretizaram uma
parceria entre as redes Cata Bahia Sudoeste e Cata Bahia Metropolitana,
juntamente com o Governo do Estado da Bahia. A ação inter redes teve como
objetivo prestar serviço de coleta de materiais recicláveis gerados durante o
carnaval de Salvador, significando, não só a conquista de um trabalho em
conjunto, mas na abertura de diálogo entre esses EES, com total ausência do
atravessador. Com o apoio do Centro de Estudos Socioambientais (PANGEA) os
catadores/ as visualizaram a oportunidade de contratação e, junto ao PANGEA,
escreveram um projeto de prestação de serviços para eventos de grande porte,
como o carnaval. Nascia assim o “De Catador para Catador”.
Mesmo
com a insegurança da falta de capital de giro para a remuneração dos catadores/
as envolvidos, o projeto seguiu a diante provando que os EES são capazes de
competir com empresas prestadoras de serviços, mas claro, com o diferencial de
ser uma economia solidária e, além de gerar renda e emprego, empodera e
direciona seres humanos a uma condição de vida digna e em pleno desenvolvimento
social.
O
trabalho realizado em todos os anos é acompanhado pelo Movimento Nacional de
Catadores e Catadoras de Materiais Recicláveis (MNCR) com o importante apoio do
Centro de Estudos Socioambientais (PANGEA). “Desenvolver este trabalho,
comprova a capacidade dos catadores e catadoras em atuar de forma profissional
em um evento com tamanha magnitude”, declarou Reginaldo Lopes, coordenador do
Pangea.
Projeto se fortaleceu dentro
do Cataforte
O Projeto de Catador para
Catador ganhou um importante aliado, o Cataforte III conforme afirma Jeane dos Santos,
catadora/mobilizadora da Rede Cata Bahia Metropolitana “Em todas as reuniões do
Cataforte o carnaval de Salvador foi ponto importante na discussão, de que
forma a gente se organiza pra contribui para garantir a melhor execução do “De
Catador pra Catador.” “Como dentro do Cataforte nós temos um
acumulo de experiência podemos mostrar para nossos colegas catadores (as)
que trabalham individualmente a força que temos quando estamos unidos em uma
cooperativa, associação ou Rede. E isso faz com que vários catadores, depois do
evento, procurem os empreendimentos da nossa Rede e passem a fazer parte deles.
Sinto uma satisfação enorme dentro de mim em mostrar a seriedade do nosso
trabalho, principalmente quando eles percebem que individualmente eles não tem
a força que tem em grupo”, afirma.
Jeane
também declara sua experiência pessoal que é ser uma facilitadora para trazer a
dignidade pra esses catadores (as) individuais que no carnaval recebem um valor
melhor pelo material coletado, sem a figura do atravessador que tanto explora
esses trabalhadores “Ajudar o próximo, garantir a dignidade de trabalho, com uniformes,
equipamentos de segurança, refeição, e pagamento justo pela venda dos materiais
é mostrar pra eles que é possível sobreviver de forma digna trabalhando com a
coleta seletiva, e isso me dá uma satisfação enorme, não tem preço, é muito
gratificante pra mim”. “Hoje eu ensino o que um dia aprendi e agradeço isso ao
Cataforte que possibilitou a chance de eu ser mobilizadora”, conclui.
752 catadores (as) beneficiados no Carnaval 2017
Os
catadores (as) atendidos pelo “De Catador para Catador” conseguiram um melhor
preço pelo quilo do material na venda direta à indústria, a R$ 3,60 (três reais
e sessenta centavos) pela latinha, sem nenhuma participação do atravessador, o
que mostrou que em grupo é possível chegar até a indústria e conseguir um valor
melhor e o merecido reconhecimento por esse importante serviço prestado a
população.
O
Projeto também tem um importante diferencial que é colocar em prática o que a
PNRS prevê, que é o pagamento pelo serviço prestado de coleta seletiva para
quem realiza o trabalho, neste caso a Bolsa Catador, através de diária, que teve
o valor de R$ 60,00 por dia trabalhado para o Catador que foi cadastrado,
Essa ação mostra o papel fundamental do
catador no processo de logística reversa que num futuro próximo deverá ser reconhecido
pelas indústrias geradoras e que são responsáveis por retirar seus produtos
pós-consumo do mercado.
O Resultado
O
resultado na visão dos responsáveis pelo projeto foi muito positivo. O total de
material coletado durante os 07 dias de carnaval na cidade de Salvador foi de
25.648 kg bruto e após a triagem e separação dos rejeitos dando um peso líquido
de 24.110 kg. Todo material coletado foi encaminhado para uma central de
triagem que alugou seu espaço, através de frete de caminhões, para que fosse
realizada a triagem adequada para posterior venda do material com um melhor
valor agregado diretamente para Industria Recicladora.
A experiência da Rede Cata
Bahia
A
experiência da Rede Cata Bahia que já comercializa diretamente com a indústria
foi crucial para eliminar a figura do atravessador e conseguir preços mais
elevados na venda dos materiais coletados durante o carnaval.
Essa ação gerou duas ações de mudança de percepção a primeira pelo fato de demonstrar que é possível de forma organizada vender o fruto de seu trabalho a preços melhores quando comercializado diretamente com a indústria. A segunda uma remobilização dos catadores que irá gerar desdobramentos para a inserção desses em programas governamentais tais como o Bolsa Família, regularização de documentos entre outros.
Assim o Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR/BA) reafirma o seu papel na busca de soluções e qualidade de vida para sua categoria. E por fim o processo de organização destes catadores de rua com seu acompanhamento ao longo do ano de 2017, e possível organização de grupos em cooperativas ou associações, ou ingresso dos mesmos nas cooperativas já existentes que fazem parte da Rede Cata Bahia.
Com relação ao processo logístico o stand contou com equipamentos básicos para o processo de triagem tais como Big Bags, Sacos de rafia, balança e espaço para triagem. A inovação nesse processo se deu novamente pela contratação dos caminhões da Rede Cata Bahia para operarem a coleta do material armazenado no Stand e destina-lo de forma ambientalmente correta, e diretamente com a Industria Recicladora, eliminando o atravessador que por anos vem explorando o trabalho do catador durante o Carnaval.
Esta contratação permitiu gerar um excedente de recurso para cooperativa beneficiando diretamente, além da meta do projeto, mais 100 catadores vinculados a CAEC, outro efeito pautado na economia solidária.
Como os recursos que foram solicitados para a execução do projeto com o Governo do Estado, só foram pagos após a execução das atividades, foi utilizado o capital de giro emprestado pelas cooperativas participantes da Rede Cata Bahia através do empréstimo solidário, pois os materiais foram comercializados por intermédio da própria rede, tendo a garantia de retorno deste capital, este não gerou nenhuma taxa ou cobrança de juros, foi pautado na aplicação do Princípio do Cooperativismo a “Intercooperação”, onde o trabalho conjunto e/ou a interação das cooperativas, em níveis local, regional e nacional, fortalecem o movimento cooperativo e atendem os cooperados de maneira mais efetiva.
Pratica que merece ser
replicada
O
Pangea também afirma que todas as ações do Projeto serão sistematizadas em
mídias, constituindo num acervo que divulgará as ações realizadas, os
resultados alcançados e a metodologia utilizada, visando difundir o projeto
junto à sociedade e o poder público e também com o objetivo que a pratica seja
replicada em benefícios de outros catadores (es), de outros Estados que podem e
devem ser os atores principais recebendo valores pela coleta dos recicláveis
nos eventos de grande porte.
*As informações sobre o Projeto De Catador
para Catador / 2017 foram gentilmente cedidas pelo Centro de Estudos
Socioambientais (PANGEA), para divulgação.